Nº 2523 - Abril de 2012
Crónicas Bibliográficas

A Europa Napoleónica e Portugal

Messianismo Revolucionário, Política, Guerra e Opinião Pública

Professor José Miguel Sardica
Tribuna da História, Setembro de 2011
 
 
 
A Revolução Francesa, o triunfo e ascensão de Napoleão, a descomunal tarefa de terminar a Revolução e pacificar a Europa, o Império e os nacionalismos dos povos, as três invasões sofridas por Portugal e suas consequências, o fim do Imperador e o Congresso de Viena, eis os grandes tópicos abordados pelo professor Sardica. Obra que, para além do texto repleto de referências bibliográficas em rodapé, apresenta em anexo uma exaustiva cronologia e uma completa bibliografia composta por fontes gerais, imprensa escrita, estudos e memórias oitocentistas e mais de uma centena de obras de história política, militar e diplomática, história da imprensa e história das ideias.
 
Havendo subestimado os nacionalismos europeus e em particular o dos povos ibéricos Napoleão intenta impor o Bloqueio Continental, em Portugal e em Espanha, sem o conseguir. Já no exílio, em Santa Helena, reconheceu que a guerra da Península o arruinara, complicando-lhe os planos, tendo constituído uma preciosa Escola para os militares ingleses, sendo a primeira das calamidades que teve de enfrentar, antes do total fracasso da campanha da Rússia e dos desaires nas batalhas de Leipzig e Waterloo.
 
Os anos de luta na Península, de 1807 a 1814, fizeram fracassar a sua ambicionada construção de uns “Estados Unidos da Europa”, com identidades, valores e liderança francesa.
 
Como reconheceu um dos generais de Massena, a campanha de Portugal teve um interesse superior a tudo o mais, pois este era o único campo de batalha em que os franceses se confrontavam directamente com os ingleses. Singular é a circunstância da Guerra Peninsular ter tido uma dimensão internacional, com a presença de forças militares de várias potências Europeias, conjugada com a dinâmica destrutiva das campanhas, particularmente em número de baixas militares e civis. Em Portugal estima-se que tenha levado a um recuo demográfico da população entre 6 a 9%.
 
Por outro lado, a passagem dos Franceses por Portugal constituiu uma ruptura na nossa sociedade, autêntico fim de ciclo histórico, com a introdução da modernidade no Portugal contemporâneo. Napoleão, embora perdendo militarmente, revolucionou o país, como revolucionou a Europa e provocou a ascensão do Liberalismo em Portugal.
 
A obra apresentada pelo professor Sardica, apresenta-se composta por seis Capítulos, com as seguintes preocupações:
No Capítulo 1º dedica-se a analisar a dinâmica política e militar da Revolução Francesa iniciada em 1789, até à chegada ao poder de Napoleão em 1799, seguindo até ao fim do Império até 1814/1815.
 
O Capítulo 2º centra-se em Portugal e nos tempos difíceis que a nossa diplomacia teve que enfrentar nos fins do século XVIII, tentando conseguir o impossível equilíbrio nas relações com franceses e ingleses. Trata ainda da partida da família real para o Brasil e da entrada de Junot em Lisboa.
 
A entrada do marechal Soult no norte do país e a sua tentativa frustrada de alcançar Lisboa, constitui estudo do Capítulo 3º.
 
O 4º Capítulo analisa a questão central da relação entre a aventura napoleónica e a opinião pública, da luta entre as novas ideias francófonas e da reacção dos conservadores, entre colaboracionismo e resistência ao francesismo, durante a primeira e segunda invasão. As tentativas de Junot e Soult de conquistarem “hearts & minds”, de serem recebidos como libertadores e não invasores.
 
A mais destrutiva de todas as invasões, a 3ª e última, é tratada no Capítulo 5º. Aborda a marcha de Massena, de Ciudad Rodrigo e Almeida, até ao Buçaco e às Linhas de Torres e a devastação do território pela estratégia anglo-lusa de “terra queimada”.
 
No 6º e último, o professor Sardica analisa o impacto das invasões francesas na construção da modernidade oitocentista portuguesa e o cortejo das dramáticas consequências. A Corte no Brasil, a orfandade da metrópole, a ruína económica, a perda da independência, a ocupação inglesa, a revolução de 1820, a independência do Brasil, a guerra civil e as fragilidades da nova ordem liberal.
 
Fica pois esta obra à disposição dos estudiosos e investigadores num momento em que recordamos a calamidade que foram as invasões, duzentos anos após a retirada de Portugal, de Massena e do seu Exército, completados em 2011. Criteriosamente apresentada, num volume de 398 páginas, de excelente encadernação e aspecto gráfico, capa a cores com a reprodução de uma alegoria a óleo de Domingos Sequeira, constitui um contributo precioso para a história contemporânea e em particular e para a história política, militar, diplomática, da imprensa e das ideias.
 
A Revista Militar agradece a oferta da obra “A Europa Napoleónica e Portugal” e felicita o professor José Miguel Sardica pelo seu trabalho.
 
Major-general Manuel de Campos Almeida
Vogal da Direcção da Revista Militar
 

 

Olhares Europeus sobre Angola.

Ocupação do território, operações militares, conhecimentos dos povos, projetos de modernização (1883-1918)

João Freire
 
 
 
Após a Conferência de Berlim e até ao final da Primeira Guerra Mundial, num período atribulado e intenso na relação Europa-África, jogou-se ao longo de mais de três décadas, a partilha do continente Africano entre as potências europeias, onde a presença portuguesa em Angola simbolizou a prespetiva de um poder que marcou indelevelmente a História de Portugal e de Angola. Na obra em epígrafe, de João Freire, editado pelas Edições Culturais da Marinha, ao longo do período observado (1883-1918), o autor compila metodologicamente, analisa e introduz notas correlativas relativamente ao contexto histórico em análise. Neste âmbito, a abordagem científica, muito completa e acompanhada de vasta documentação, surge como um testemunho fundamental para quem estuda estas temáticas, possibilitando ao leitor uma prespetiva abrangente sobre a estratégia de ocupação do território, as operações militares desenvolvidas, o conhecimento sobre os povos e uma análise sobre a política de desenvolvimento implementada por Portugal para Angola neste período.
 
Em face da obra ora apresentada, a Comissão Cultural da Marinha e o autor estão de parabéns, na certeza que deram mais um prestimoso contributo para o conhecimento científico da história moderna de Portugal e de Angola. Realce ainda para a vasta bibliogafia e conteúdos inéditos apresentados, que anotados e relacionados metodologicamente, são um referência obrigatória para a melhor percebermos e compreendermos os “Olhares Europeus sobre Angola”.
 
A Revista Militar felicita o autor e a editora pela consistência científica e oportunidade da publicação, certo que será uma referência para os estudiosos, e agradece o volume oferecido pelo autor.
 
Major Luís Manuel Brás Bernardino
Sócio Efectivo da Revista Militar
Tenente-coronel
Luís Manuel Brás Bernardino
Major-general
Manuel António Lourenço de Campos Almeida
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2012-06-11
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Tenente-coronel

Luís Manuel Brás Bernardino

O Tenente-coronel Luis Manuel Brás Bernardino é Licenciado em Ciências Militares pela Academia Militar na especialidade de Infantaria. Serviu no Destacamento de Tavira do Regimento de Infantaria de Faro, Regimento de Infantaria Nº3, Centro de Instrução de Quadros, Escola Prática de Infantaria, Estado-Maior do Exército e entre 2008 e 2011 desempenhou as funções de Adjunto Militar do General Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas. Encontra-se colocado desde 04 de Abril de 2011 na Escola Prática de Infantaria como Comandante do Batalhão de Formação.

Entre os cursos que frequentou destaca-se o “Curso de Estado-Maior Conjunto” e o “Senior Leaders Seminar” no Africa Center for Strategic Studies nos EUA. Detém uma Pós-graduação em Estudos da Paz e da Guerra nas Novas Re

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Major-general

Manuel António Lourenço de Campos Almeida

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